O dólar subiu mais de 1% nesta quinta-feira, 29, e voltou a fechar acima do nível técnico e psicológico de R$ 5,60 pela primeira vez em mais de 20 dias. O principal indutor da alta do dólar no mercado local foi a onda de valorização da moeda norte-americana no exterior, após indicadores dos Estados Unidos – Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre e pedidos de auxílio-desemprego – esfriarem apostas em corte mais agressivo de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) a partir de setembro.
O real, que vinha exibindo desempenho superior a de pares, apresentou nesta quinta as piores perdas entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes. Fatores técnicos típicos de fim de mês, como a rolagem de posições no segmento futuro e a preparação para a disputa na sexta-feira, 30, pela formação da última taxa ptax de agosto, contribuíram para jogar o dólar para cima.
Operadores citam também certa cautela nos mercados em razão da espera por novos sinais sobre a condução da política monetária local depois da indicação, na quarta-feira, do atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, para a presidência da instituição a partir de 2025. Espera-se agora a indicação para o substituto de Galípolo na diretora de Política Monetária e de outros dois diretores do BC cujos mandatos terminam neste ano.
“Para nós, a indicação de Galípolo era amplamente esperada, o que sugere ausência de impacto significativo nos preços dos ativos domésticos”, afirmam economistas do Citi em relatório. “As atenções provavelmente à indicação dos outros três nomes, especialmente para a diretoria de política monetária”.
No momento de maior estresse, no fim da manhã, o dólar à vista atingiu máxima a R$ 5,6630. A moeda perdeu parte do ímpeto ao longo da tarde, em sintonia com o exterior, e encerrou a sessão em alta de 1,22%, cotada a R$ 5,6231 – maior valor de fechamento desde o último dia 7 (R$ 5,6250). Foi o quarto pregão seguido de alta do dólar, que já apresenta ganhos de 2,62% na semana. A desvalorização acumulada em agosto, que já chegou a superar 3%, é agora de 0,57%.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a divisas fortes – o índice DXY subiu mais um degrau e superou a linha dos 101,300 pontos. A moeda norte-americana caiu na comparação com divisas de países exportadores de commodities como dólar australiano, em sessão de recuperação dos preços do petróleo, mas subiu em relação a emergentes latino-americanos, em especial o real e o peso mexicano.
O Departamento de Comércio dos EUA informou que o PIB do país subiu a ritmo anualizado de 3% no segundo trimestre, de acordo com a segunda leitura, superando as expectativas (2,8%). Os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram para 231 mil, enquanto analistas previam baixa para 232 mil.
Para o economista André Galhardo, consultor da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, esses números sugerem que, apesar de “sinais discretos de desaceleração”, a atividade econômica permanece acima do nível desejado pelo Fed.
“O câmbio reflete o impacto de uma postura mais cautelosa do Fed no início de cortes de juros”, diz Galhardo, para quem o desempenho da economia americana reduz a probabilidade de um corte de 50 pontos-base nos EUA em setembro. “Embora diversas métricas sugiram que os Estados Unidos possam enfrentar uma recessão em breve, realidade atual mostra uma economia ainda bastante aquecida.”
Investidores aguardam agora a divulgação, na sexta, do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Fed – para calibrar as apostas para a magnitude do alívio monetário nos EUA.
“O dólar avança impulsionado pela recuperação dos Treasuries e pela expectativa em torno do PCE. A moeda americana segue fortalecida especialmente contra emergentes em um cenário de incertezas globais”, afirma o head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa, ressaltando que a disputa pela formação da taxa Ptax deve “adicionar pressão” sobre o mercado local de câmbio na sexta-feira.