O real teve a segunda melhor performance entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities nesta quinta-feira, 19, ficando atrás apenas da moeda australiana. A apreciação cambial – pelo sétimo pregão consecutivo, que levou a cotação para menor nível desde 19 de agosto – ocorre com a leitura do mercado de que o corte de 50 pontos-base na taxa de juros dos Estados Unidos é favorável para commodities, com o Brasil se beneficiando também pelo maior diferencial entre os juros da maior economia do mundo e o local, após o Comitê de Política Monetária (Copom) subir a Selic em 0,25 ponto porcentual e trazer um comunicado hawkish (duro). Contudo, o quadro fiscal brasileiro segue como pano de fundo e limita uma performance ainda mais positiva.
“A combinação de início de ciclo de queda mais intenso nos EUA e de sinalização de ciclo de alta mais forte no Brasil sugere apreciação do real brasileiro por conta do aumento do diferencial de juros”, afirma o Banco Pine, em relatório.
O Fed cortou na quarta-feira a taxa dos Fed Funds para a faixa entre 4,75% a 5,00% ao ano, estimulando um maior apetite por risco entre os investidores e favorecendo moedas de mercados emergentes, avalia Bruno Nascimento, analista de câmbio da B&T Câmbio.
Já a Selic foi elevada para 10,75%, no primeiro aperto monetário do governo Lula 3. O tom do comunicado do Copom foi considerado mais duro, levantando apostas de que o BC vai acelerar o passo nas duas últimas reuniões do ano para terminar rápido, até janeiro, o ciclo de aperto.
Em baixa desde a abertura, o dólar chegou a tocar mínima intradia de R$ 5,3958 pela manhã. Ao amenizar o ritmo por parte da tarde, a moeda americana fechou em queda de 0,69%, a R$ 5,4242.
Na avaliação do UBS, a erosão da vantagem de rendimento dos EUA deve levar a uma erosão da sobrevalorização do dólar.
Entre as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities, o real só perde em relação ao dólar australiano, a que, segundo Adauto Lima, economista-chefe da Western, geralmente tem uma reação mais correlacionada às commodities, sobretudo com o minério de ferro – que subiu 1,69% (Dalian) e 2,18% (Cingapura).
O que pode limitar a apreciação do real continua sendo a questão fiscal, segundo Marcos Weigt, head de tesouraria do Travelex Bank. Para ele, não houve muita evolução no cenário fiscal e se continuar do jeito que está, a queda do dólar frente ao real será limitada.
Já Lima, da Western, pondera que “o fiscal já fez estrago lá atrás, e não houve na margem nada que piore ou melhore”. O economista-chefe diz ainda que, no ano, a performance do real – que acumula queda de 11,76% contra o dólar – foi muito impactada por aspectos fiscais.