Entidades ligadas ao movimento negro se reuniram com a FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) nesta segunda-feira (18) para discutir ações e propor mudanças no âmbito do futebol do Estado após dois casos de racismo em poucos dias no Campeonato Estadual.
No último caso, o árbitro Rosalino Sanca foi alvo de um médico da comissão técnica do Costa Rica, no Estádio Laertão. Vídeo gravado pelo jornalista Rafael Domingos, que também faz parte do secretariado de Políticas Públicas para Negros flagrou o momento que Sanca é chamado de ‘neguinho’.
“O Sanca foi solicitar que o gestor do estádio se retirasse e aí ele já virou e falou assim: ‘ah, mas você sabe com quem você está falando?’. O camarada que é negro quando ouve outro cara falando assim você pode ter a tranquilidade que você vai sofrer qualquer tipo de insulto. Eu já puxei o celular e comecei a gravar, quando o médico passou bem na frente proferindo aquelas palavras. Vocês não tem ideia do quanto que machuca você ver um outro irmão sendo ofendido daquela forma”, conta Rafael.
O jornalista também participou da reunião, que aconteceu na sede da FFMS, em Campo Grande. Outro caso de racismo foi sofrido pelo atleta Vinícius Machado, da Portuguesa, em partida contra o Náutico, no Jacques da Luz.
Um dos policiais militares que entrou em campo durante um momento de ânimos exaltados durante a partida puxou Vinícius pelo braço e disse que o prenderia onde estivesse, o chamando de ‘nego’.
Romilda Pizani (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)
Diversas entidades participaram da reunião. Dentre as propostas que serão estudadas estão a criação de um núcleo voltado para pauta do movimento negro dentro da federação, além de ações de panfletagem durante os jogos e palestras aos envolvidos no futebol.
“Mato Grosso do sul precisa se mostrar preocupado e também interessado em tentar diminuir isso, Nós apresentamos propostas de fazermos uma ação conjunta; uma ação de conscientização; fazermos uma campanha para contribuir com que os profissionais da área do futebol entendam um pouco sobre o que é o letramento racial”, explica a presidente do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de MS, Romilda Pizani.
Romilda Pizani e Francisco Cezário (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)
A presidente do Grupo TEZ (Trabalho e Estudos Zumbi), Bartolina Catanante, defende a criação do núcleo voltado para o movimento, principalmente após tantos casos de racismo a nível mundial
“Nós do movimento negro podemos ajudar, mas a função de combate ao racismo é da federação de futebol. É de qualquer um dos partícipes que estão ali que não podem permitir que isso ocorra no campo de futebol, que é onde a gente tem crianças, tem famílias e profissionais”, afirma à reportagem.
A coordenadora de políticas de promoção de igualdade racial de Campo Grande, Rosana Anunciação, ressalta que as ações devem ser tomadas em conjunto.
Reunião contou com diversos representantes (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)
“Eles precisam estar conosco nessa luta porque a ação deles é importante. Nós precisamos fazer com que eles entendam esses processos e a partir das estruturas e das construções que eles tem institucionais criem um núcleo; uma coordenação; que se apure a questão do racismo e que seja trabalhado desde a parte administrativa até lá nas escolinhas de futebol com as crianças”, opina.
Presidente da FFMS, Francisco Cezário, recebeu uma nota de repúdio contra as ofensas racista assinadas por vários movimentos de Mato Grosso do Sul. “Somos parceiros e nos colocamos a disposição. Estamos prontos para estarmos junto para qualquer projetos que as entidades que fizeram a visita proponham. Não é um papel só do futebol, é um papel de toda a sociedade sul-mato-grossense”, ressalta.
Entidades entregaram nota de repúdio à federação (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)
O ataque sofrido por Sanca, após recebido foi levado pela FFMS ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-MS) para que seja analisado e que os culpados sejam punidos segundo prevê o CBJD. Além disso, o clube afastou o médico das atividades.
No caso do atleta Vinícius Machado, o clube registrou a ocorrência na Justiça Civil e também na Corregedoria da PMMS.
Cronista de futebol, Thiago Faria também acompanha o caso e participou da reunião. O CPF tem que ser punido sempre. É uma questão criminal. O policial tinha que ter saído preso do Jacques da Luz. O médico tinha que ter saído preso do Costa Rica”, opina.
“Nesse caso do Costa Rica tem quer ter punição esportiva também. O caso do policial não tem o que fazer. A culpa não é do Náutico que era o mandante na oportunidade, foi o policial, no exercício da sua função, que teve um ato de racismo contra um jogador. Mas no caso do Costa Rica foi um membro da comissão técnica que ofendeu um representante da federação de futebol, que estava ali a trabalho”, diz.