Em meio à crise de fertilizantes no mundo, o Brasil tem sido afetado pela situação desde antes da guerra entre Rússia e Ucrânia. Dividindo espaço nessa realidade, Mato Grosso do Sul começa neste ano os testes para produção de fertilizantes e pode, ainda, tornar-se um vendedor para o resto do País.
As culturas que serão analisadas são as de soja e milho, tanto na safra que começa em setembro como na safrinha do milho.
Esses fertilizantes são organominerais, obtidos com subprodutos da avicultura, da suinocultura e da bovinocultura de leite.
Pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos envolvidos nesse desenvolvimento analisam que a forma mais rápida de tornar os países mais independentes dos fertilizantes sintéticos é com a utilização de matéria-prima disponível em seus territórios.
Mato Grosso do Sul concentra estudos sobre o uso desses fertilizantes e responde por 10,7% dos abates de bovinos no País. Isso torna o Estado um local estratégico para obtenção da matéria-prima para a produção dos fertilizantes organominerais.
Os testes vão começar, primeiro, nos Estados Unidos, a partir de maio, com a safra de verão. Por lá, serão dois experimentos, um com soja e outro com trigo. No país da América do Norte, não há possibilidade de haver duas safras, por isso as análises estão restritas a um período do ano.
Em território brasileiro, as safras de soja e milho terão testagem, e a de milho vai passar por avaliação em dois momentos distintos.
Os resultados laboratoriais de análise do solo e da produção nos dois cenários vão determinar medidas para encaminhar esse produto ao mercado, talvez em período de nova avaliação a partir da próxima safra.
A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) vai conduzir os experimentos no Brasil em duas áreas, cada uma de 5 mil m², tanto em propriedade rural como em fazenda experimental localizada em Mundo Novo.
“O projeto, já em execução, envolve estudos dos diferentes aspectos do uso dos fertilizantes organominerais, que compreendem avaliações da qualidade do solo, dos impactos ambientais do seu uso, dos ganhos econômicos com seu uso e, ainda, incluem estudos relacionados ao sequestro de carbono”, explicou o pesquisador Tiago Zoz, integrante da equipe de pesquisa no Brasil
“Em ambos os países, nos experimentos serão avaliados fertilizantes organominerais utilizando cama de aviário e dejeto bovino como matéria-prima. Também haverá parcelas em que o fertilizante sintético será utilizado para efeitos de comparação”, complementou o pesquisador.
A possibilidade de tornar o Brasil capaz de planejar sua safra com fertilizante próprio permite maior controle sobre o custo. Nesta safra de 2021/2022, o volume total de 284,4 milhões de toneladas de grãos deve ser produzido, aumento de 12,5% na comparação com o ano anterior. Soja e trigo puxaram os números.
Ainda assim, a instabilidade no fornecimento de fertilizantes gerou tensão em setores envolvidos com a agricultura, abalando o maior produtor de soja do mundo.
No cenário atual de guerra e falta de fertilizantes, o preço do insumo para Mato Grosso do Sul está 39% mais caro do que no segundo semestre do ano passado, quando o setor desenhava a falta do produto.
A importação de fertilizante da Rússia pelo Estado corresponde a 20% do que é utilizado, e isso está tornando a produção inviável para alguns produtores.
A Associação dos Produtores de Soja de MS (Aprosoja-MS) confirmou que nem todos os produtores rurais fecharam a compra de fertilizantes para o cultivo até o fim do ano, em razão do preço e da escassez dos insumos.
“O gasto com fertilizante consome mais da metade desta safra, o que, na avaliação da Aprosoja, inviabilizaria a produção em muitas propriedades de Mato Grosso do Sul. O ideal para os produtores de soja é ter o fertilizante na fazenda até agosto, sendo assim, o prazo-limite para fazer a encomenda é abril”, informou a associação, em nota.
As condições adversas para a agricultura local criam condição ruim para a produção no Estado, que em 2020/2021 teve safra de soja recorde: 13,305 milhões de toneladas (17,8% maior que a safra anterior), mas o pesquisador da UEMS analisou que alternativas estão no horizonte.
“O uso de resíduos agrícolas oriundos de atividades tais como avicultura, suinocultura e bovinocultura de leite como fertilizante é há tempos praticado por agricultores, principalmente do sul do Brasil. Essas atividades geram resíduos, compostos principalmente por fezes e urina dos animais e restos de ração. Estes resíduos são ricos em nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio”, explicou Tiago Zoz.
Segundo o pesquisador Travis Witt, da USDA-ARS, agência governamental norte-americana ligada ao Departamento de Agricultura dos EUA, o estudo avaliará o rendimento e a qualidade das culturas, ao mesmo tempo em que determinará os potenciais benefícios para o solo.
Se for bem-sucedido, o uso de fertilizantes organominerais poderia economizar milhões de dólares aos produtores do Brasil e dos EUA.