“Já são mais de 5 mil indígenas infectados pela Covid-19 e 86 óbitos em aldeias de diversos municípios”, esse é o resultado (até 15/04/2021), do monitoramento realizado pelo mestrando em Recursos Naturais (PGRN) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Gledson Martins, 23 anos, da etnia Guarani-Nãndeva da aldeia Porto Lindo, de Japorã/MS.
O trabalho é desenvolvido por ele e pelos orientadores Doutor Sandro Marcio Lima e a pós-doutora Maryleide Ventura da Silva, com base nos dados divulgados pelo boletim da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). Segundo a pesquisa, a maioria dos 86 óbitos foram nos municípios de Dourados, Aquidauana, Miranda, Sidrolândia e Campo Grande com os maiores números de mortes. As etnias mais atingidas são os guaranis, kaiowás e terenas.
“Nesse mês de abril é possível observar intervalos maiores (em dias) entre o registro de novos casos e óbitos sobre os indígenas. Apesar disso, todos os cuidados básicos ainda devem ser exercidos, pois existe grande possibilidade de haver explosão de novos casos. Ainda não foram imunizados 100% da população indígena no Estado. Nesse sentido, a proximidade de algumas aldeias indígenas de centros urbanos como o caso de Dourados é um dos fatores que mais agravam a situação dos povos indígenas”, ressalta Gledson Martins.
O mestrando em Recursos Naturais cursou a graduação tecnológica em Gestão Ambiental, na UEMS de Mundo Novo, e no início de 2019 iniciou o mestrado, o primeiro em sua família a cursar uma pós-graduação. Ele está inserido na linha de pesquisa: Materiais e Métodos Aplicados aos Recursos Naturais, entretanto houve mudanças na pesquisa e ele passou a modelar matematicamente os casos de COVID-19 sobre os povos indígenas de MS.
Gledson Martins ressalta que está cumprindo um dever social e sua contribuição é uma pequena parcela do investimento que toda a população brasileira realiza no ensino superior e pós-graduação de instituições públicas. “Especificamente para os povos indígenas, é um retorno significativo de minha parte à lutas que muitos indígenas, na maioria dos casos, ainda analfabetos, buscaram conquistar. Meu trabalho contribui inicialmente no registro histórico da situação diária que os povos indígenas enfrentam. Com o monitoramento ainda podemos estudar a propagação do vírus desde o início dos primeiros casos afim de propor medidas de controle para os gestores locais, bem como as lideranças indígenas, líderes municipais, estaduais e federal”, destaca.
Ele enfatiza que as ações afirmativas, popularmente conhecida como “cotas” são uma conquista da população indígena para ser incluído em espaços como a universidade pública. Apesar de ingressar no PGRN pela ampla concorrência, ele ainda retribui esse ingresso à luta de seus parentes para conquistar vagas especificas à indígenas no ensino superior no contexto nacional.
E a UEMS, desde a graduação, tem contribuído em sua formação. Neste período ele já foi orientado por cinco docentes doutores da Universidade, na pesquisa e na extensão. Esses profissionais contribuíram em sua formação como pesquisador que domina ferramentas tecnológicas e de um amplo conhecimento para a elaboração de projeto de recuperação de áreas degradadas, o qual atualmente já exerce profissionalmente. “A minha comunicação na língua inglesa também só foi possível devido aos professores da UEMS. Outra situação que fui surpreendido foi o fato de um professor pedir para valorizar minha língua materna, o guarani, que infelizmente em alguns espaços são discriminados”, lembra.
Ele será o primeiro mestre de sua família e já tem outros familiares cursando o ensino superior – duas no curso de Direito da UEMS de Naviraí. “É uma experiência prazerosa e cansativa. A dedicação que faço é grande e creio que é válido. Pois como já comentei, são financiados pelo povo justamente para o desenvolvimento social do Brasil. Combater a desigualdade intelectual é meu objetivo, por isso também tenho meus grupos de estudos para apoiar vestibulandos. Essa é parte prazerosa. A parte cansativa é de conhecimento de todos, são os desafios físicos, mentais e até mesmo minha relação com os governantes que gerenciam a educação brasileira que desgastam meu psicológico”, finaliza o mestrando do PGRN, Gledson Martins.