O governo do presidente Javier Milei, na Argentina, vai financiar a construção de uma cerca na fronteira com a Bolívia. O projeto prevê que a estrutura de 200 metros de comprimento separe as cidades de Águas Blancas, na Província de Salta, de Bermejo, em território boliviano.
A licitação aberta pela prefeitura local faz parte de um plano do Ministério do Interior de Milei para diminuir a criminalidade na região e deu margem a comparações com o muro proposto por Donald Trump para separar os EUA do México, ainda em seu primeiro mandato.
“A cerca evitará que as pessoas cheguem à cidade sem passar pela imigração”, disse Adrián Zigarán, prefeito interino de Águas Blancas, em entrevista à Radio Mitre. “Os bolivianos nos enchem de cocaína todos os dias e não fazem nada.”
O anúncio foi recebido com indignação pelo governo da Bolívia. No domingo, 24, a chancelaria boliviana emitiu um comunicado mencionando “preocupação” com a cerca e apontou que os temas de fronteira deveriam ser tratados por meio de mecanismos bilaterais, já que pode “afetar a boa vizinhança e a convivência pacífica entre povos irmãos”.
A construção da cerca faz parte do Plano Güemes, que Milei lançou em dezembro para “combater crimes” como o narcotráfico na fronteira de Salta, especialmente nas duas cidades fronteiriças mais importantes, Aguas Blancas e San Ramón de la Nueva Orán, a 1,6 mil quilômetros de Buenos Aires.
Com dois metros e meio de altura, a cerca servirá para forçar a passagem das pessoas pelos postos de imigração da cidade argentina de 3 mil habitantes. O Rio Bermejo está dentro da chamada “rota da droga”, segundo o Ministério da Segurança argentino. O rio é usado por argentinos que compram mercadorias mais baratas em Bermejo, na Bolívia. “Por aqui passa de tudo, ar-condicionado, geladeiras de duas portas, eletrodomésticos”, disse Zigarán.
Segundo ele, algumas pessoas chegam a realizar dez viagens por dia e os produtos acabam na cidade de Orán. “Estão rompendo o tecido comercial de Orán e do norte argentino por este descontrole na importação de mercadorias ilegais pela fronteira”, disse o prefeito.
Na terça-feira, 27, a ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, afirmou que aumentará também o controle de outras fronteiras, incluindo com o Brasil. “Agora, vamos trabalhar na fronteira de Misiones com o Brasil, por onde muita gente passa caminhando por muitos lugares e onde tivemos assassinatos e problemas” disse. “Teremos uma fronteira muito mais controlada.”
Embora ainda não haja um plano para construir novas cercas, Bullrich não descartou a possibilidade, principalmente onde é mais difícil identificar os limites, como a fronteira argentina com as cidades brasileiras de Dionísio Cerqueira (SC) e Barracão (PR). “Se precisar construir mais cercas, vamos fazer.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.