Em dia marcado por volatilidade e trocas de sinal, o dólar à vista se firmou em baixa moderada na última hora de negócios e encerrou a sessão desta quinta-feira, 27, em queda de 0,22%, cotado a R$ 5,5075. Na máxima, no início da tarde, a moeda havia superado R$ 5,53, com máxima a R$ 5,5390.
O movimento de apreciação do real na reta final do pregão se deu em meio a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a política fiscal e a uma diminuição dos ganhos do dólar em relação a outras divisas latino-americanas, em especial o peso mexicano.
Em entrevista à rádio Itatiaia, em Minas Gerais, Lula deu sinais de que está atento à pauta da redução de gastos. O presidente afirmou que “sempre há lugar para cortar no orçamento” e que o “Brasil tem muito subsídios e desoneração”.
Ao mencionar que o governo realiza uma “operação pente-fino” em todos os ministérios, Lula disse que por mais que “queria fazer política social”, o país não pode “jogar dinheiro fora”. Mais uma vez, o presidente comentou a depreciação do real, dizendo que “há muitas pessoas que querem viver de especulação, apostando na alta do dólar”.
Além disso, o presidente elogiou o atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, nome mais cotado para substituir o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Para Lula, Galípolo é um “menino de ouro, competente e honesto”, com “todas as condições de ser presidente do BC”. Parte do tombo recente do real esteve relacionado, segundo analistas, a temores de que Lula indique para a presidência do BC um nome historicamente ligado ao PT ou um economista heterodoxo.
“A sensação que se tem é que esse patamar do dólar e a maneira com que o câmbio se depreciou começam a afetar Brasília. Temos ver o que vai sair agora de medidas. A parte difícil de fazer o ajuste fiscal é cortar gasto”, afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.
Para o economista, medidas mais duras, como mudança de regras de crescimento de despesas, trariam resultados claros. Já revisão de gastos a partir da passagem de um “pente-fino” nas despesas pode até trazer até ganhos pontuais, mas não têm o poder de afastar a desconfiança dos investidores, uma vez que os números podem ser superestimados.
Operadores afirmam que a formação da taxa de câmbio também esteve muito suscetível hoje a movimentos técnicos, com movimentos típicos de rolagem de posições no segmento futuro na virada do mês e a preparação para a disputa amanhã, 28, em torno da formação da última taxa Ptax de junho, do segundo trimestre e do primeiro semestre. O contrato de dólar futuro para julho teve giro forte, ao redor de US$ 20 bilhões.
Apesar do refresco hoje, o dólar ainda acumula alta de 1,23% na semana e de 4,89% no mês, o que leva a valorização da moeda americana no ano a 13,48%. O real é a segunda divisa global relevante que mais perde em relação ao dólar em 2024, atrás apenas do iene.
“O real foi muito mal recentemente e hoje foi melhor que as outras divisas. O principal driver para a depreciação do real no ano é externo, com a valorização global do dólar, que acelerou recentemente. Mas os fatores idiossincráticos fizeram o real ir bem pior que os pares nos últimos três meses. É algo bem forte”, afirma Lima, da Western Asset.
Apesar da queda das taxas dos Treasuries e do leve recuo do índice DXY, as principais divisas latino-americanas, à exceção do real, perderam força hoje, em especial os pesos chileno e mexicano. O real andou na contramão na maior parte do dia, mas era perceptível que o maior ou menor grau de desvalorização dos pares se refletia no comportamento da moeda brasileira.
Os momentos em que o dólar permaneceu abaixo de R$ 5,50 no fim da tarde coincidiram que com a diminuição dos ganhos da moeda americana em relação ao peso mexicano, na esteira da decisão do Banco Central do México (Banxico) de manter a taxa básica de juros do país em 11% ao ano.
Pela manhã, durante apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RT), em São Paulo, Roberto Campos Neto disse que o “câmbio apresentou uma desvalorização que está em linha com algumas várias que também simbolizam o prêmio de risco no Brasil”, como o juro da NTN-B longa. O presidente do BC reiterou que a autoridade monetária não vai intervir no câmbio para mirar uma cotação, mas apenas para corrigir eventual disfuncionalidade do mercado.