Os juros futuros recuaram nesta sexta-feira, 31, motivados basicamente pela queda dos rendimentos dos Treasuries. Números menores de inflação nos Estados Unidos abriram espaço para que o mercado antecipasse as apostas em cortes das taxas lá, o que estimulou a retirada de prêmios das curvas. Em contrapartida, a alta firme do dólar e a expectativa pela pesquisa Focus na segunda-feira, 27, limitaram o ajuste doméstico.
O juro do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caiu de 10,429% no ajuste anterior para 10,385% e encerrou o dia na mínima. A taxa do DI para janeiro de 2027 cedeu de 11,239% para 11,140% e a do DI para janeiro de 2029, de 11,729% para 11,640%.
Contudo, a queda dos juros domésticos – de 5 a 10 pontos-base – era tímida frente ao ajuste dos Treasuries. Ontem, quando o mercado brasileiro estava fechado devido ao feriado de Corpus Christi, as taxas americanas já haviam cedido entre 5 e 7 pontos, depois da desaceleração do PIB americano ter renovado as esperanças em um corte de juros pelo Federal Reserve (Fed). Hoje, elas caíram entre 4 e 6 pontos.
O movimento foi deflagrado pela divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), a medida de inflação preferida do Fed. O indicador subiu 0,3% em abril, na comparação com março, em linha com o consenso do mercado. Mas o núcleo do PCE avançou apenas 0,2%, contra um consenso de 0,3%.
“Os Treasuries têm uma queda bem relevante nos últimos dois dias, e é isso que está puxando os DIs para baixo”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. “Mas esse ritmo de queda acabou sendo um pouco decepcionante, dado o tamanho da baixa dos Treasuries.”
Dois fatores principais impediram uma queda mais intensa. Em primeiro lugar, a alta de 0,81% do dólar frente ao real, a R$ 5,2508 no fechamento. Em segundo, a expectativa pela divulgação da pesquisa Focus, na próxima segunda-feira. Os agentes avaliam que há possibilidade de uma nova rodada de aumento das expectativas para o IPCA, devido aos fortes números do mercado de trabalho divulgados esta semana.
Mesmo com a queda de hoje, a curva de juros chega ao fim da semana com ganho de inclinação, evidenciando um aumento da percepção de risco do mercado. Além do aumento das expectativas de inflação, a incerteza quanto ao timing do corte dos juros americanos, o risco fiscal e as dúvidas em torno da condução da política monetária pelo Banco Central a partir de 2025 têm pesado no mercado.
“A tendência ainda é de incerteza, especialmente no campo fiscal, no Brasil, e com relação à política monetária lá fora. Isso deve continuar pressionando os juros, mesmo que em uma intensidade um pouco menor do que vimos no primeiro trimestre”, diz o gestor de multimercados e renda fixa da Mag Investimentos, Ricardo Jorge.