O caminhoneiro Marciliel da Silva Garcia, de 37 anos, está ilhado na BR-386, na cidade de Pouso Novo, após a rodovia ceder com o deslizamento de terra causado pelas chuvas históricas no Rio Grande do Sul. Neste sábado (4), o campo-grandense completa cinco dias preso no trecho que está sem internet, água e energia elétrica.
A situação desesperadora conta com ajuda humanitária de moradores da pequena cidade de 1,8 mil habitantes, entre Soledade e Lageado. Foi montada no local uma base de apoio, com alimentação e suporte. Marciliel conta que há mais de 300 motoristas presos na rodovia danificada, sendo carros de passeio e outros caminhoneiros brasileiros.
O trabalhador tem um caminhão de mudanças e saiu de Campo Grande no dia 27 de abril, com destino a Porto Alegre. Ele fez algumas paradas, mas na terça-feira (30) ficou ilhado. No local, tem motoristas de Roraima, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e de diversas regiões do Brasil.
“Nós não conseguimos voltar para trás e nem ir para frente por conta do deslizamento de terra e a obstrução das rodovias decorrentes das fortes chuvas que ocorreram nesses dias. Não para de chover aqui no Rio Grande do Sul. O único celular que pega aqui é o meu, que estou no topo do morro, e não sei de qual cidade está vindo esse sinal de torre para o meu celular”.
O trabalhador diz que, se não fosse pelos moradores, o amparo seria precário, pois não houve atendimento da Defesa Civil ou da concessionária responsável pela manutenção da via. Marciliel é casado e tem um filho. Para tranquilizar a família, já conseguiu fazer uma ligação.
“A gente não tem informação, notícias… Está difícil. Para nossa sorte, o pessoal que ficou ilhado entre essas duas cidades, estamos no meio. O pessoal da cidade e o pessoal do CTG aqui de Pouso Novo estão fornecendo alimentação, café, almoço e janta para as pessoas desabrigadas, para os motoristas. Nós estamos recebendo suporte desse pessoal”.
Nas imagens registradas por ele é possível ver a dimensão do estrago causado na rodovia. Árvores deslisaram pelo morro, interditando o local. O asfalto cedeu e abriu crateras gigantes. Há pontos de alagamento, sem trégua para chuva.
Em frente ao 6° Grupamento de Bombeiros, as viaturas do Corpo de Bombeiros viajaram equipadas com embarcações e estrutura especializada em resgate em altura e aquático. Os militares realizaram na manhã de sexta-feira (3) uma reunião de preparação antes da viagem em apoio aos moradores do Rio Grande do Sul, que enfrentam uma das piores tragédias climáticas de sua história.
A equipe, composta por 13 militares, seguirá para Monte Negro, a 1,4 mil quilômetros de Campo Grande. A cidade enfrenta 80% de danos causados pela inundação e chuvas intensas. Serão nove servidores em terra e quatro do grupamento de aviação da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).
O Comandante-Coronel Frederico Reis Salas afirma que o apoio terá duas etapas, sendo os primeiros 10 dias para buscas de vítimas e resgate de sobreviventes. A segunda fase será para buscas por corpos desaparecidos, contando com o auxílio de cães farejadores.
O grupo é especializado em resgates diante de tragédias, tendo atuado anteriormente em Brumadinho, Minas Gerais. Os militares são capacitados para buscas aquáticas e as viaturas estão equipadas com embarcações, coletes, motores e outros equipamentos. O Corpo de Bombeiros montou uma central de gerenciamento de crises para desenvolver estratégias.
O número de mortos (56) pelas enchentes que castigam o Rio Grande do Sul nesta semana já superou o total de vítimas (54) de outra tragédia na região, registrada em setembro após a passagem de um ciclone extratropical acompanhado de chuvas. Segundo o balanço da Defesa Civil na manhã deste sábado, 4, há ainda 67 desaparecidos – é o pior desastre climático do Estado.
Segundo a Agência Estado, no total, 281 dos 497 municípios gaúchos são afetados pelos temporais. No Estado, há diversas áreas, o que dificulta os resgates, mesmo de aeronaves. Roca Sales, na região do Vale do Taquari, foi uma das cidades mais destruídas pelos dois desastres climáticos. O prefeito foi às redes sociais relatar o “caos” e pedir ajuda para o socorro de 15 moradores soterrados. “A gente não consegue ir a lugar nenhum. Temos de ir de barco.”