O método Wolbachia, implantado em Campo Grande desde 2020, é somente uma das estratégias no combate ao Aedes aegypit, mosquito transmissor da dengue, zika vírus e chikungunya.
Conforme apurado pela reportagem, com base no boletim epidemiológico, se comparar os dados do dia 4 de fevereiro de 2020, - ano em que começou o projeto -, e 5 de fevereiro de 2024, as notificações de dengue saíram de 9.053 para 2.058 casos prováveis, queda de 77,27%. Já as confirmações caíram de 2.040 para 310 (-84,80%), diferença de 1.730.
Enquanto no Acre, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal já foram decretados situação de emergência pela doença, a secretária-adjunta da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Christine Maymone, classificou que Mato Grosso do Sul ainda está no período de pré-epidemia.
“Enquanto outros estados estão em período de epidemia, nós estamos em pré-epidemia. Nós temos seis municípios com alta incidência, vários em média incidência, mas ainda temos municípios em baixa incidência. O momento agora é de vigilância, prevenção e controle, exatamente para podermos nos organizar e evitar internações e óbitos”, destacou.
A Wolbachia quando inserida no organismo do mosquito, este microrganismo impede o desenvolvimento de vírus que são prejudiciais à saúde do ser humano, facilitando na redução de casos de dengue e outras doenças transmitidas pelo inseto. O projeto consiste na soltura de outros mosquitos.
“Acho que o Wolbachia tem ajudado e é uma das tecnologias importantes, o Wolbachia e as também as Ovitrampas. Todas as estratégias e ferramentas de controles são válidas, mas uma só não dá conta de tudo. São várias ações”, pontuou.
Na visão do infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, é esperado um cenário parecido de como foi em 2023.
“O que nós observamos em 2024 é que os números foram muito próximos de 2023. A gente espera um ano bastante similar a 2023 com casos de dengue, mas com a possibilidade do serviço de saúde conseguir manejar adequadamente esses casos”, disse.
Sobre o projeto inovador em Campo Grande, ele acredita que seja uma forma de combater os índices altos e que reflete em todo o Estado.
“Campo Grande tem o Wolbachia, que de alguma forma impacta na redução do número de casos. Isso vai refletir nos dados do Estado, porque Campo Grande é quase um milhão de pessoas, é quase 40% de toda a população do Estado. Se tem uma cidade que tem essa medida inovadora, que reduz a carga da doença, impacta no número do Estado”, afirmou.
Todas as regiões de Campo Grande já receberam a soltura dos Wolbitos, dividida em seis fases. Os primeiros bairros a receberem foram: Guanandi, Aero Rancho, Batistão, Centenário, Coophavila II, Tijuca e Lageado.
Conforme já divulgado pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Estudo Clínico Randomizado Controlado realizado em Yogyakarta, na Indonésia, aponta uma redução de 77% na incidência de dengue e de 86% de hospitalizações em decorrência da doença em áreas tratadas com Wolbachia em comparação com áreas não tratadas.
Projeto Ovitrampas - Em Mato Grosso do Sul, 14 municípios foram selecionados para participar do projeto-piloto do Ministério da Saúde, que usa armadilhas ovitrampas para monitorar a infestação do Aedes aegypti.
A técnica simula vasos de planta para atrair os insetos. A ideia é fazer com que os mosquitos fêmeas depositem os ovos no pote e torne a análise das equipes de saúde mais eficiente.
Os municípios são: Amambai; Aral Moreira; Aquidauana; Coxim; Deodápolis; Ivinhema; Itaquiraí; Laguna Carapã; Maracaju; Naviraí; São Gabriel do Oeste; Ribas do Rio Pardo; Três Lagoas e Ponta Porã.
Ações – Conforme Boletim Epidemiológico, divulgado pela SES, Mato Grosso do Sul tem seis municípios com alta incidência. Estão na lista Aral Moreira, Sete Quedas, Paranhos, Costa Rica, Coronel Sapucaia e Laguna Carapã.
A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil realizou reunião na quarta-feira (07), com representantes dos órgãos estaduais e instituições parceiras para divulgação do estado de alerta em saúde pública e a necessidade de visita às residências para garantir a eliminação dos criadouros.
A preocupação da SES é para que a população faça a eliminação de possíveis criadouros do mosquito.
A secretária-adjunta Christine detalha algumas ações que Mato Grosso do Sul tem feito, como a criação do Comitê de Enfrentamento; resolução para que todos os municípios estabeleçam plano de ação para vigilância e prevenção; além de também a ampliação do horário nas Unidades Básicas de Saúde.
A presidente do Cosems/MS (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul), Josiane de Oliveira Silva Corrêa, disse que tem acompanhado com os municípios a estrutura das unidades de saúde.
“Nós temos acompanhado como está a questão da infraestrutura, se esses municípios estão se preparando em relação a ter condições físicas, a ter condições de insumos também. Tudo previamente para que se, eventualmente, nós precisarmos, tenhamos uma rede de assistência fortalecida”, pontuou.
Ainda de acordo com o boletim, não foi registrado nem um óbito, mas está em investigação o da assistente social Marcelly Almeida, de 33 anos, que morreu na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino, de Campo Grande. A suspeita é que ela tenha sido a primeira vítima de dengue no Estado em 2024.