A sombra da clandestinidade, os jogos de azar resistem ao tempo e se adaptam às diferentes plataformas. Enquanto isso, à luz do dia, as apostas esportivas pairam no espectro da legalidade e encontram terreno fértil no esporte mais amado pelos brasileiros: o futebol.
Mas, se ambas têm a sorte como fator determinante para o sucesso, o que realmente as diferem?
Jogo do bicho nos anos 80. Caça níqueis dos anos 2000. O surgimento das apostas online revolucionou um mercado extremamente lucrativo no Brasil e, em meio às diversas possibilidades de apostas, as Bets se tornaram um ‘case’ de sucesso estampado em praça pública. No entanto, têm perdido espaço para apostas que prometem altas quantias.
Dados do Instituto Jogo Legal, que advoga pela regulamentação do setor, indicam que só o jogo do bicho movimenta, por ano, R$ 12 bilhões em apostas clandestinas. Número bem menor que os cerca de R$ 100 bilhões estimados nas plataformas de apostas online no Brasil.
Diferente dos jogos de azar, que envolvem apostas em eventos com resultados totalmente aleatórios, como roleta ou caça-níqueis, as apostas esportivas são baseadas no desempenho de equipes ou jogadores em eventos esportivos - o que exige um conhecimento prévio do apostador.
Gerente da MS Bet Sports, Diego dos Santos de Oliveira explica que, como o próprio nome já diz, as Bets consistem em apostas esportivas, mas que a prática não se limita aos jogos de futebol.
“Chamamos de aposta esportiva pelo fato de sermos voltados ao esporte, mas não se restringe apenas ao futebol. Também é possível apostar em outras modalidades como basquete, corrida de cavalos, lutas e vôlei”, explica.
Para um cliente iniciar no mundo das apostas o primeiro passo é ser maior de 18 anos, Diego dos Santos ressalta que é essencial entender que a Bet é apenas uma diversão e deve ser jogada com responsabilidade.
Apesar do sucesso das Bets, Diego Santos, afirma que nos últimos meses, o surgimento de novas modalidades de aposta com promessas de dinheiro rápido e fácil, como o famoso ‘jogo do tigre’ tem prejudicado o mercado de apostas esportivas.
“Hoje o mercado de apostas esportivas deu uma caída, principalmente pelo fato de outras plataformas estarem aderindo a novas modalidade de jogos que prometem dinheiro fácil. Ainda assim, existem os que preferem a aposta esportiva”, destaca.
Quer dizer, os jogos de azar têm um impacto significativo no mercado de apostas esportivas, muitas vezes influenciando as percepções e preferências dos apostadores, que em busca de resultados mais ‘promissores’ migram para os jogos de azar.
A coexistência dessas modalidades pode criar dinâmicas complexas no mercado, com o apelo emocional dos jogos de azar muitas vezes competindo com a lógica e a estratégia das apostas esportivas.
Para se proteger de sites de apostas enganosas, é fundamental entender as diferenças entre jogos de azar e atividades de apostas baseadas em habilidades, como as Bets. Evitar a participação impulsiva, pesquisar plataformas de apostas confiáveis e estabelecer limites financeiros são práticas que podem evitar futuros prejuízos financeiros.
Especialista em segurança da informação, Roger Nascimento destaca que os riscos em investir nas apostas esportivas são semelhantes a qualquer outra transação financeira na internet. Por isso, a recomendação é sempre investigar o histórico da empresa.
“É preciso tomar alguns cuidados como pesquisar se a empresa é idônea, se possui os cadastros adequados nos órgãos governamentais e buscar em sites de reclamações de consumidores (como o Reclame Aqui) se há citações da empresa”, orienta.
Além disso, estar ciente das regulamentações locais e buscar informações sobre a reputação das operadoras pode ajudar a garantir uma experiência de apostas mais segura e transparente.
Com novas Bets surgindo a cada dia, é preciso estar atento na hora de escolher a plataforma em que vai investir seu dinheiro. Roger Nascimento explica que ações simples, como consultar o CNPJ da empresa e há quanto tempo foi criado, podem trazer mais segurança ao apostador.
"Veja se o enquadramento da empresa é condizente com a área de atuação, uma empresa MEI, por exemplo, não condiz com o volume de receita movimentada para uma empresa de apostas e busque pelo endereço físico".
Um sinal de alerta são propostas muito vantajosas, segundo o especialista essa é uma das principais características dos golpes, fundamentados pela ambição e sonhos da possível vítima.
Roger Nascimento também destaca que apesar das apostas serem legais, é importante saber que as plataformas precisam ser regulamentadas pelo Governo Federal. Não é simplesmente uma empresa que faz apostas, existe uma burocracia antes da operação.
Plenário do Senado (Agência Brasil)
O Plenário do Senado aprovou na última terça-feira (12) o texto-base da regulamentação das apostas online. Pelo texto, as apostas em resultados de eventos esportivos reais, como partidas de futebol e de vôlei, passarão a pagar imposto.
O texto prevê a tributação de 12% sobre o faturamento das empresas que exploram esse tipo de aposta. Na proposta original, o governo pretendia cobrar 18%, mas a alíquota foi reduzida pelo relator, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Além disso, as empresas terão que pagar uma outorga de até R$ 30 milhões para funcionarem legalmente por cinco anos, com uma mesma empresa podendo pagar o valor para operar até três marcas comerciais. O texto original estipulava a renovação a cada três anos.
Já os apostadores serão tributados em 15% sobre os ganhos que ficarem acima da isenção do Imposto de Renda, atualmente em R$ 2.112.
Durante a tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos, os senadores incluíram exigências para as empresas de apostas esportivas operarem no país. Elas deverão ter pelo menos uma pessoa brasileira como sócia, que detenha no mínimo 20% do capital social.
O sócio ou acionista não poderá ter participação, direta ou indireta, em sociedades anônimas de futebol, nem ser dirigente de equipe desportiva no Brasil. Eles também não poderão atuar em instituições financeiras e de pagamento que processem apostas em quota fixa.
(Foto: Agência Brasil)
Em teleconferência realizada em julho, a rede supermercadista Assaí comunicou que o mercado de apostas esportivas têm consumido a renda de seus clientes e, por consequência, reduzindo o volume de compras em supermercados.
"A gente tem feito várias pesquisas, tem visto que teve alguns outros gastos novos que entraram no bolso desse consumidor. Por incrível que pareça, também aparece muito o mercado agora de aposta esportiva como algo que tira bastante a renda hoje desse consumidor. E ele não tem conseguido retomar os seus volumes de compra", afirmou Belmiro Gomes, CEO do Assaí.
Segundo a empresa, ao gastar dinheiro no jogo, o consumidor acaba não tendo dinheiro para comprar mais nos supermercados.
Conforme o Portal Monitor do Mercado, o CEO da empresa afirmou que previa que a redução da inflação, com estabilidade dos preços dos alimentos, faria o consumidor médio retomar seu volume de compras, mas isso não tem acontecido.