As investigações em torno da Operação Dakovo, que envolve Brasil, Paraguai e Estado Unidos, tem como foco central as facções criminosas que atuam na fronteira com o Mato Grosso do Sul. A cadeia do negócio que movimentou mais de R$ 1 bilhão tem origem nas indústrias européias, passa por grandes empresas e chega até o PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e outras.
As 20 diligências deflagradas nas primeiras horas da manhã dessa terça-feira (5) acontecem simultaneamente nos departamentos Central e Alto Paraná. No Brasil, as buscas elas estão sendo realizadas em 6 estados, ainda não há informações sobre cumprimento de mandados em Mato Grosso do Sul. No Estados Unidos, a Dakovo faz buscas no Arkansas.
Em termos gerais, segundo informações da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) a referida empresa, através das suas ligações com a Dimabel, conseguiu importar armas da Croácia, Eslovénia e República Checa. As armas receberam rápidas autorizações para importação e posterior venda.
Em seguida os lotes de armas foram adquiridos por intermediários com ligações diretas com facções criminosas de todo o Brasil. Para justificar as supostas transações, foram simuladas pequenas vendas de duas ou três armas para pessoas que não tinham capacidade financeira, como empregados, diaristas ou estudantes.
Antes do envio ao Brasil, os números de série das armas foram apagados para evitar rastreamento. Desde 2012, a empresa IAS (International Auto Supply) já importou 25 mil armas que supostamente foram vendidas no Paraguai.
No entanto, essas armas acabaram em grupos do crime organizado no Brasil e no exterior. Para que os pagamentos não fossem rastreados, a estrutura criminosa utilizou “doleiros” que operavam interligados entre o Paraguai e os Estados Unidos.
Eles “pulverizaram” grandes somas de dinheiro em pequenas transações de menos de 5.000 dólares em contas diferentes, que foram finalmente agrupadas novamente para fazer pagamentos a partir dos Estados Unidos.
A PF começou a investigação em 2020, quando da apreensão de armas no interior da Bahia. Os números de séries das armas estavam raspados, mas a perícia da PF conseguiu informações sobre os armamentos.
Foi descoberto que um argentino, proprietário da empresa IAS no Paraguai, adquiriu armamento de vários países, como Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia, incluindo pistolas, fuzis, rifles, metralhadoras e munições.
Ele repassava as armas para facções no Brasil, principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com a PF, o esquema ainda tinha a participação de doleiros e empresas ‘fantasmas’ no Paraguai e nos EUA.
As investigações também apontam corrupção e tráfico de influência na DIMABEL, órgão paraguaio encarregado de supervisionar e autorizar o uso de armas, que facilitava o funcionamento do esquema.