A "luta" contra a balança aflige muitos brasileiros. Dados do Ministério da Saúde indicam que a obesidade atinge 6,7 milhões de pessoas no Brasil. Nesse cenário, a cirurgia bariátrica surge como uma alternativa viável a quem procura uma melhor qualidade de vida. Em Campo Grande, o número de cirurgias desse tipo registrou um salto de 44% nos primeiros dez meses de 2023.
De janeiro a outubro deste ano, foram realizadas 68 cirurgias bariátricas em Campo Grande, 21 a mais que em todo o ano de 2022, quando foram registrados 47 procedimentos. Atualmente, a cirurgia é realizada no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) e no HU (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian).
Ao contrário do senso comum, a cirurgia bariátrica é algo que vai além de questões estéticas. O procedimento tem o intuito de cuidar da saúde do paciente, seja para reduzir riscos ligados a doenças, ou para oferecer maior qualidade de vida na realização diária de atividades de quem sofre com o excesso de gordura corporal.
Cirurgiã e professora do curso de Medicina da Uniderp, Andrezza Louise Delmondes explica que o procedimento consiste em uma intervenção cirúrgica no estômago para reduzir o peso corporal em pessoas com obesidade grave. Além disso, o procedimento auxilia no tratamento de doenças associadas ao excesso de gordura corporal. No entanto, a cirurgia exige uma série de requisitos.
“A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica reforça que ainda que o paciente tenha obesidade grave, quem se candidata a bariátrica deve comprovar que tentou emagrecer por meio de tratamento clínico ao longo de pelo menos dois anos e não obteve sucesso”, explica a médica.
(Foto: Divulgação)
A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes obesos grau 3 (com IMC acima de 40 kg/m2) ou para obesos grau 2 (IMC entre 35 e 39,9), com doenças relacionadas à obesidade como hipertensão, diabetes, gordura no fígado, além de apneia do sono dislipidemias graves ou doenças degenerativas.
“O IMC é o índice de massa corpórea, ele é calculado dividindo o peso do paciente pela altura elevada ao quadrado, assim é possível identificar se há indicação para a cirurgia”, esclarece a médica.
Conforme o Ministério da Saúde, os pacientes precisam, obrigatoriamente, cumprir um desses critérios para realizar a bariátrica pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Somente em Campo Grande, 70 pessoas aguardam na fila com indicação para realização do procedimento cirúrgico. Contudo, o tempo de espera varia de acordo com o grau de urgência, complexidade e disponibilidade.
Para entrar na fila, o paciente deve passar por acompanhamento ambulatorial até que esteja apto a realizar o procedimento. Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), esse processo envolve um atendimento multiprofissional, realizado por médico, psicólogo e nutricionista.
Obesidade atinge 6,7 milhões de pessoas no Brasil (Divulgação)
Inúmeros fatores contribuem para o aumento da procura pela cirurgia bariátrica no país, entre eles está a pressão estética e a gordofobia. Ao passo que a sociedade valoriza um único padrão considerado Bonito e socialmente aceito, a pressão estética age influenciando que pessoas se adéquem, a qualquer custo, a um determinado padrão de beleza.
O estigma do peso ou da obesidade configura-se quando as pessoas sofrem abuso verbal e/ou físico associado ao excesso de peso, podendo levar à marginalização, exclusão e discriminação. Essa prática, por consequência, leva as pessoas a se sentirem inferiorizadas e buscarem cada vez mais por intervenções cirúrgicas.
No Brasil, uma em cada cinco pessoas está com sobrepeso ou obesidade, segundo dados do Ministério da Saúde. A projeção da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que cerca de 2,3 bilhões de pessoas estejam acima do peso, cerca de 700 milhões até 2025.
Outro fator determinante para o aumento dos casos de obesidade foi o distanciamento social, estratégia utilizada para conter o avanço da Covid-19 no Brasil, com isso, houve um aumento no sedentarismo e do consumo de alimentos fornecidos por aplicativos de delivery.
Em 2022, 9% da população entre 18 a 24 anos tinha índice de massa corporal igual ou maior que 30 kg/cm², o que configura obesidade. Já em 2023, esse percentual subiu para 17,1%, conforme dados do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia).
Cirurgia é indicada para pessoas com obesidade grau 3 (Divulgação)
Existem três tipos de cirurgias bariátricas: as restritivas, que diminuem o tamanho do estômago; as disabsortivas, que diminuem a absorção dos alimentos; e as mistas, que diminuem tanto o tamanho do estômago quanto a absorção dos alimentos.
Andrezza Louise Delmondes ressalta que todos os procedimentos são realizados por meio de um corte de no abdome (cirurgia aberta) ou por meio de pequenos orifícios no abdômen (laparoscopia).
“No Brasil são realizadas cinco técnicas cirúrgicas para o tratamento da obesidade, com autorização do Conselho Federal de Medicina: o by-pass gástrico, a gastrectomia vertical (Sleeve), duodenal switch, banda gástrica e a cirurgia de scopinaro - sendo que as duas últimas já estão em desuso, por causa da evolução das demais técnicas”, explica a médica.
O bypass gástrico consiste na divisão do estômago em duas partes, na qual a maior fica isolada (não recebe o alimento) e a menor parte é religada ao intestino. O procedimento é feito para que a comida seja recebida pela menor parte do estômago, o que reduz o espaço para o alimento e diminui a fome.
A gastrectomia vertical, também conhecida como cirurgia de Sleeve, é um procedimento restritivo, em que grande parte do estômago (2/3) é removido do organismo. Já o duodenal switch é a associação entre gastrectomia vertical e desvio intestinal.
Cirurgias (Arquivo/Midiamax)
O número de cirurgias bariátricas cresceu 22,9% em 2022 comparado a 2019. Um levantamento da SBCBM, aponta que entre 2017 e 2022, foram realizados 315.720 mil procedimentos bariátricos em todo o Brasil.
Do total de procedimentos, 252.929 cirurgias foram feitas por meio dos planos de saúde; 16.000 feitas de forma particular; e 46.791 procedimentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), com base nos dados da Agência Nacional de Saúde.
O Atlas Mundial da Obesidade 2023 aponta que mais de 50% da população mundial estará com sobrepeso ou obesidade em 2035. No Brasil, a estimativa é de que 41% dos adultos estejam neste grupo. O levantamento alerta para a preocupação com a saúde, mas destaca o impacto de US$ 4,32 trilhões ao ano que esse quadro pode causar na economia mundial.