Neymar trocou o Barcelona pelo Paris Saint-Germain em 2017 por protagonismo. Tinha o sonho de ser o melhor do mundo e capitanear o time francês em seu projeto - que se revelou fracassado - de alcançar o topo do futebol europeu. A sua versão era de que havia trocado a Espanha pela França porque queria "algo maior". Seis anos depois, o brasileiro, sem clima em Paris, decidiu aceitar uma proposta milionária da Arábia Saudita e fechou com o Al-Hilal por dois anos.
Neymar teve sua chegada oficializada nesta terça-feira e assinou um contrato quase bilionário. O clube saudita ofereceu um salário muito maior em relação aos 4 milhões de euros por mês (R$ 21 milhões) que o atleta ganhava no PSG. De acordo com informações de jornais europeus, o astro brasileiro vai faturar algo em torno de 160 milhões de euros em dois anos, isto é, cerca de R$ 860 milhões.
O PSG vai receber, segundo o jornal L’Equipe, da França, R$ 90 milhões de euros (483 milhões) pela venda do atleta pelo qual pagou 822 milhões de euros há seis anos e que o fez ser, até hoje, a transferência mais vultosa da história. Ele viaja nesta terça-feira à nação árabe e deve ser apresentado na quarta-feira
Em português, o Al-Hilal anunciou Neymar em suas redes sociais como o "talento maravilhoso… que atrai a atenção de todos". O astro brasileiro aparece no fim do vídeo publicado pelo clube saudita para dizer, em inglês, que está na Arábia Saudita e que é "Hilali". Ele surge vestindo a camisa azul da equipe árabe.
Com Cristiano Ronaldo no Al-Nassr e Messi no Inter Miami, dos Estados Unidos, ambos perto do fim de suas trajetórias, havia a expectativa de que Neymar pudesse sobressair no futebol europeu. O Estadão apurou que o desejo do jogador era se retornar ao Barcelona. No entanto, com o caminho mais difícil para voltar ao time em que foi mais feliz na Europa, entre 2013 e 2017, foi convencido pelo pai, que administra a sua carreira, que a Arábia Saudita era a melhor opção.
Na última semana, o clube catalão buscou alternativas para conseguir a contratação do atacante e chegou a ter um sinal positivo do atleta para caminhar com o negócio, mas não houve acordo. O mais importante para o atleta e seus representantes era que ele se livrasse do PSG, no qual ganhou muito dinheiro ao longo de seis anos, mas fracassou esportivamente.
Neymar, então, foi atraído pelo dinheiro dos árabes, que jorra como se fosse petróleo. Se viabilizasse seu retorno ao Barcelona, teria a oportunidade de jogar de novo no clube em que mais brilhou na Europa. Mas seus ganhos financeiros seriam significativamente menores em comparação com o dinheiro que vai ganhar na Arábia Saudita. Além disso, Xavi é disciplinador e rígido como técnico, portanto, não era desejo do treinador trabalhar com o brasileiro, com quem jogou.
De acordo com o site Foot Mercato, o camisa 10 da seleção brasileira fechou um contrato repleto de regalias. O acordo entre Neymar e o time saudita conta com uma cláusula que promete um pagamento de 500 mil euros, cerca de R$ 2,7 milhões, por publicação ou story em sua conta no Instagram, que registra mais de 211 milhões de seguidores, falando sobre a Arábia Saudita. Além disso, o jogador ganhará 80 mil euros, cerca de R$ 430 mil, por vitória, terá uma equipe completa à disposição em sua mansão durante 24h, um avião particular e poderá morar com sua mulher, Bruna Biancardi, mesmo não sendo casado legalmente com ela, o que por lei é proibido no país.
O fim do casamento com o PSG, cuja relação já era ruim há anos, começou a ser materializado, de fato, na última quarta-feira passada. O técnico Luís Enrique e o diretor de futebol Luís Campos se reuniram com Neymar para avisá-lo que não contavam com o brasileiro pois foi alterado o projeto do PSG, que pretendia dominar a Europa quando trouxe grandes estrelas, incluindo Mbappé, que agora decidiu ficar e apareceu sorridente nesta segunda-feira, e Messi, este que foi dar brilho à liga dos Estados Unidos.
Mais do que nomes, Nasser Al-Khelaifi, magnata presidente do PSG, quer mudar conceitos no clube. Seu propósito, depois de bilhões de dólares investidos em contratações - parte delas malsucedidas - é de que agremiação mude a sua mentalidade e, enfim, tenha sucesso em seu ambicioso projeto esportivo cujo objetivo principal é vencer a Liga dos Campeões.
A recíproca era verdadeira. Neymar queria que o casamento, marcado por controvérsias em todos os seis anos, acabasse antes, sobretudo em 2019, quando forçou sua saída, mas teve seus planos frustrados. Tentou mais de uma vez deixar o clube que pagou R$ 1 bilhão por ele. Também recebeu sondagens de dezenas de clube da Europa. Acabou ficando, acumulando controvérsias fora de campo, entre festas, lesões, protestos da torcida, supostas traições à mulher e até denúncias de crimes ambientais pela construção de um gigantesco lago artificial em sua mansão em Mangaratiba, no Rio. Com isso, perdeu a credibilidade no mercado.
O Chelsea se interessou, mas não fez proposta. A baixa média de jogos nas últimas seis temporadas, o histórico recente de contusões e os problemas fora do gramado ajudam a explicar a ausência de propostas de times europeus por uma atleta tão genial quanto Neymar.
O brasileiro conseguiu só em 2023 a separação do time que reinou na França, não na Europa, como planejou a família real do Catar. Ele não conquistou a Liga dos Campeões vestindo a camisa da equipe de Paris. Foi vice-campeão em 2020. Sua única taça do torneio mais importante da Europa ele conseguiu quando jogava no Barcelona.
Com a escolha de seguir os passos de Cristiano Ronaldo, mas, aos 31 anos, portanto sete anos mais jovem que o astro português, Neymar sinaliza que não se importa mais em ser melhor do mundo, ainda que a liga árabe tenha se fortalecido consideravelmente com a chegada de dezenas de jogadores vindos da Europa.
O português rumou à nação árabe já depois de ser eleito cinco vezes o melhor jogador do mundo e de erguer o mesmo número de troféus da Liga dos Campeões. Karim Benzema, 35 anos, outro na liga árabe, é o atual vencedor da Bola de Ouro, dada pela revista France Football, e ostenta quatro títulos europeus, todos pelo Real Madrid. Messi, mais um a escolher atuar em uma liga periférica, a Major League Soccer, dos Estados Unidos, só o fez aos 35 anos e depois de conquistar seu maior sonho: a Copa do Mundo com a seleção argentina.
Com feitos indiscutíveis, como estar apenas atrás de Pelé na artilharia da seleção, ganhar o inédito ouro olímpico, erguer as taças da Libertadores e Liga dos Campeões, formar um trio lendário com Messi e Suárez, Neymar fez a escolha de jogar no novo Eldorado do futebol mundial, mas ainda assim, uma liga periférica, com menor pressão.
A transferência, feita sob a supervisão do pai do atleta, que é quem gera a carreira do atacante até hoje, evidencia o peso de suas escolhas e reforça a impressão de que o brasileiro se afasta da chance de, mesmo com tudo que jogou e ganhou, ir muito além, dado o talento assombroso do atleta que, em março de 2009, começara a encantar o mundo vestindo a camisa do Santos.
Aos 31 anos, Neymar será, ao lado do Cristiano Ronaldo, os símbolos mais importantes do sportswashing do país árabe, que dispõe de bilhões em seu projeto de fazer uso estratégico e político do esporte para melhorar sua reputação no mundo. A transferência de um dos maiores e mais famosos atletas das últimas décadas representa mais um passo no programa do governo saudita de limpar sua imagem.
Neymar será comandado pelo português Jorge Jesus, ex-técnico do Flamengo, e terá como companheiros alguns jogadores que fizeram o mesmo caminho, migrando da Europa para o futebol árabe, casos do zagueiro senegalês Kalidou Koulibaly, do volante português Rúben Neves, do meia-atacante sérvio Sergej Milinkovic-Savic e do atacante brasileiro Malcom. O atacante Michael, outro brasileiro, já faz parte há mais tempo do grupo.
Do quarteto de clubes escolhidos pelo governo saudita para grandes investimentos, apenas o Al-Ahli ainda espera a oficialização da chegada de um craque. O Al-Nassr tem Cristiano Ronaldo, o Al-Ittihad investiu em Karim Benzema, e o Al-Hilal trouxe Neymar. Os investimentos nesses quatro clubes são estimados em R$ 4 bilhões. O Fundo de Investimento Público (PIF, na sigla em inglês) controla 75% de cada uma dessas quatro equipes, enquanto 25% pertencem às fundações que se apresentarem para compor os investimentos.
O PSG dedicou seis parágrafos de um texto em seu site para se despedir de Neymar. Na publicação, o clube francês exalta o brasileiro, elenca os dez títulos conquistados pelo brasileiro em Paris, dá destaque aos 118 gols marcados pelo atacante em 173 partidas - é o quarto maior artilheiro da história da equipe - e diz que ele "emocionou uma multidão" no Parque dos Príncipes.
"É sempre difícil dizer adeus a um jogador incrível como Neymar, um dos melhores jogadores do mundo", disse Nasser Al-Khelaifi, presidente e CEO do Paris Saint-Germain. "Jamais esquecerei o dia em que ele chegou ao PSG, e o que ele contribuiu para o nosso clube e nosso projeto nos últimos 6 anos", completou o magnata, segundo o qual, Neymar "sempre será grande parte" da história do time francês.