TERA-FEIRA, 11 DE MARO DE 2025
DATA: 14/10/2019 | FONTE: Campo Grande News Japorã é considerada a pior cidade do Estado no indicador 0,195 pontos no IDH Duas cidades no sul do Estado, com a mesma base econômica e que enfrentam desafios no desenvolvimento
Foto: Divulgação

Áreas e populações quase idênticas, separadas por 200 quilômetros de estrada e um abismo de 0,195 pontos no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). As pequenas Japorã, pior do Estado no indicador, e Glória de Dourados, uma das “top 10”, ilustram um Mato Grosso do Sul de contrastes e de extremos, diferenças que os 42 anos de criação do território ainda não foram capazes de minimizar.

Emancipada de Mundo Novo apenas em 1992, Japorã é a última colocada no ranking de IDH entre os municípios sul-mato-grossenses, com 0,526. O número calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) classifica a cidade como de baixo desenvolvimento humano e pode ser comparado aos indicativos de países como Paquistão (0,538), Mianmar (0,536) e Angola (0,532).

O índice leva em conta critérios de renda, educação e longevidade. Japorã é a pior avaliada do Estado nas duas primeiras colunas.

Glória de Dourados foi elevada a distrito em 1958 e, como município, em 1963, tendo alguns anos de vantagem em relação a Japorã na busca pelo desenvolvimento. O IDH é de 0,721, o melhor resultado entre os municípios com menos de 10 mil habitantes, se for levada em conta a projeção estimada de população para 2019, que é de 9.965 habitantes. Também muito perto da média nacional, que foi de 0,727.

É justamente esse índice populacional o elemento que mais aproxima Glória de Dourados de Japorã, este com perspectiva de chegar a 9.110 habitantes, aproximadamente 1,3 mil a mais pelo último levantamento do IBGE, em 2010. De resto, apesar de contarem com a agropecuária na base econômica, seguem rumos distintos.

O prefeito Vanderlei Bispo (PDT) justifica que Japorã é município “fim de linha”, em alusão à geografia que encurrala seus 419,3 mil km² de área entre Salto Del Guairá, no Paraguai e a divisa com o Paraná, distante cerca de 30 quilômetros.

Dados do IBGE ajudam a explicar a posição extrema do município. A cada 100 habitantes, apenas cinco trabalham de maneira formal nas áreas de indústria, comércio, construção ou serviços - menor resultado de Mato Grosso do Sul.

Em meio ao segundo mandato consecutivo, Bispo reconhece que falta emprego na zona urbana do município. Não existem grandes indústrias. A força de trabalho se concentra na área rural, indígena em sua maioria. Do total, 5,6 mil são índios guarani-nhandeva. O prefeito destaca que a população indígena de Japorã planta 1,5 mil hectares de mandioca.

Cultivada em 339 estabelecimentos agropecuários do município, a raiz soma produção de 12,6 mil toneladas anuais, de acordo com o censo agropecuário de 2017. A mandioca colhida em Japorã gera emprego fora dali, na fecularia de Mundo Novo.

O caso da pecuária na cidade fronteiriça é similar, conforme explica o consultor para planejamento de Japorã e secretário-executivo do Conisul (Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento da Região Sul de Mato Grosso do Sul), Walter J. Silva.

O rebanho bovino na cidade soma 38,8 mil cabeças de gado. Porém, o processo de beneficiamento da carne é feito a 60 quilômetros, em Iguatemi.

O prefeito aposta na pavimentação de trecho entre Japorã e Iguatemi da MS-386 para colocar o local “em contexto socioeconômico diferenciado e numa rota de desenvolvimento”.

A obra na rodovia já foi licitada pelo governo estadual. Se concretizada, a via vai encurtar a viagem de quem vem da região sul-fronteira com destino ao Paraná em pelo menos 50 quilômetros.

“A cidade-glória” – O nome surgiu a partir do discurso do padre José Daniel, o administrador da colônia federal de Dourados, implantada a partir de 1955. “Esta cidade será a glória, a glória de Dourados”, referindo-se município de conexão administrativa.

Esse loteamento planejado é citado pelo prefeito Aristeu Pereira Nantes (Patriota) como um dos trunfos de Glória de Dourados, com grande incentivo aos produtores. Ao longo dos anos, o município diversificou cultura, despontando em vários setores dentro da agropecuária: tem o 2º maior rebanho de suínos, com 233,6 mil cabeças, o 8º em cabeças de aves, sendo 1 milhão e o 7º em produção leiteira, chegando a 8,6 milhões de litros, segundo dados do IBGE, divulgados este ano.

Essa integração é considerada atrativa: para 2020, está prevista a instalação de laticínio e, em negociação, uma fábrica de ração e loja veterinária.

A exemplo da maioria dos municípios de MS – como Japorã - ainda há dependência de recursos estaduais. Na cidade fronteiriça, esse percentual de receita de fontes externas representa 93,2% do total.

Em Glória de Dourados, até 2015, as receitas de fontes externas representavam 86,7% segundo IBGE. O prefeito diz que existe trabalho de ampliar a arrecadação de recursos próprios sem aumentar os índices cobrados.

Nantes cita como exemplo a cobrança de Iptu (Imposto Predial e Territorial Urbano) a partir da reavaliação de zoneamento, mapeamento as novas edificações e, principalmente, as melhorias de imóveis. O gerente municipal de Finanças, Diomar Mota dos Santos – cargo similar ao de secretário – explica que a cobrança do imposto teve data alterada, justamente por conta desse estudo. O pagamento parcelado, anteriormente encerrado em abril, continuou em andamento no segundo semestre.

Para Walter Silva, o desenvolvimento de Japorã depende de um “olhar diferente” sobre o incentivo à implantação de pequenas e médias indústrias e de geradores de serviços nas cidades de menor porte.

“Hoje, nossa legislação é desigual. O benefício oferecido para se instalar em Três Lagoas é o mesmo para Japorã. Assim não conseguimos competir nem com nossos vizinhos”, diz.

Prefeito Vanderlei Bispo classifica Japorã como município fim de linha (Foto: Reprodução/Facebook)

 

 

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