A fabricação de cigarros no Paraguai é legalizada. O Brasil, porém, não importa regularmente cigarros desse país, o que significa que qualquer maço paraguaio que circula em território brasileiro entrou de forma ilegal. Além disso, a indústria cigarreira paraguaia é toda voltada à exportação: enquanto a demanda interna anual é por 2,5 bilhões de cigarros, a produção chega a 60 bilhões, e as fabricantes, que em sua maioria estão localizadas perto das regiões fronteiriças, já teriam capacidade instalada para produzir 80 bilhões.
O ingresso de cigarro contrabandeado no Brasil se dá por via fluvial ou terrestre. No segundo caso, hoje a principal porta de entrada é a fronteira seca com o Mato Grosso do Sul, onde o aparato de fiscalização é menos estruturado do que, por exemplo, em Foz do Iguaçu. Na maioria das vezes, carretas com grandes cargas de cigarros saem da região de Salto del Guairá, no Paraguai, e entram por Mundo Novo (MS). De lá, acessam a região de Guaíra (PR) através da Ponte Ayrton Senna para depois seguirem pela BR-272, em direção a São Paulo, ou pela BR-163, em direção ao Sul.
A maior parte do fluxo ilegal, porém, se dá pelo Lago de Itaipu, Rio Paraná ou por seus afluentes, como o Rio Piquiri. O transporte se dá em embarcações que carregam pequenos volumes. As cargas são recebidas em portos clandestinos e colocadas em carros de passeio que seguem, por meio de estradas vicinais, para entrepostos espalhados pelo interior – geralmente barracões ou propriedades rurais. Nesses lugares, é feita a consolidação: os caminhões são carregados e de lá partem para os grandes centros consumidores do País. Em alguns casos, o cigarro é misturado a uma carga lícita, enquanto em outros os veículos carregam apenas as mercadorias do contrabando.
Na maioria das vezes, os carros utilizados para transporte de cigarro contrabandeado são furtados ou roubados. Para que possam carregar a maior quantidade possível de mercadoria, os contrabandistas costumam retirar os bancos e até o forro. Um SUV, que é um dos modelos mais usados pelas quadrilhas hoje, é capaz de carregar de 40 a 50 caixas, o equivalente a 20 mil maços, com valor estimado em torno de R$ 100 mil.
Para driblar os órgãos policiais, os contrabandistas se valem de uma logística sofisticada. Os comboios são escoltados por batedores, às vezes armados com fuzis, que informam aos motoristas se há presença de fiscalização nas rodovias. Os bandos também são apoiados por exércitos de olheiros – geralmente jovens, inclusive menores de idade – cuja função é vigiar os movimentos dos agentes da repressão. As placas dos veículos costumam ser trocadas ao longo do trajeto até o ponto de venda, que pode levar de dois a três dias desde o ingresso do produto no Brasil.