Apesar dos abaixo-assinados e das falas de alguns ministros, o STF decidiu ontem apenas sobre o pedido específico da defesa de Lula - o de que ele não fosse preso depois de esgotados seus recursos ao Tribunal Federal Regional da 4ª Região (TRF-4), e pudesse recorrer em liberdade até a última instância. O STF também não disse nada a respeito da possibilidade - cada vez mais remota - de Lula concorrer nas eleições presidenciais deste ano.
Mesmo assim, o resultado de quarta-feira é uma sinalização sobre como a maioria dos ministros deve votar em duas ações que questionam a prisão após a segunda instância - os processos são relatados pelo ministro Marco Aurélio Mello e podem efetivamente mudar o entendimento do STF. Não há data marcada para esse julgamento, mas, nos bastidores, a presidente do tribunal, Cármen Lúcia, está sendo pressionada a pautar o tema.
Com a decisão do Supremo, Lula fica cada vez mais próximo de ir para a cadeia. Segundo a assessoria do TRF-4, a defesa do petista tem até a próxima terça-feira (10 de abril) para apresentar os chamados "embargos dos embargos".
Só depois que este possível recurso for decidido pelos três desembargadores da 8ª Turma do TRF-4, que condenaram Lula em janeiro, o tribunal enviará um ofício ao juiz federal Sérgio Moro informando que o trâmite no TRF-4 acabou. Caberá a Moro então assinar o mandado de prisão.
Mas como ficaria a corrida eleitoral sem Lula no páreo? Veja abaixo, as possíveis implicações disso no cenário atual.
Sem Lula na corrida, o mais provável é que o PT foque na eleição da maior bancada possível de deputados federais - cada novo representante na Câmara significa uma fatia maior dos fundos Partidário e Eleitoral, além de mais espaço de televisão durante as próximas disputas.
Em resumo, trata-se de defender a sobrevivência do partido - cuja cúpula é alvo de pesadas acusações de corrupção pelo menos desde 2015, na esteira da Lava Jato.
A discussão sobre o eventual substituto para Lula na corrida presidencial depende do próprio ex-presidente, dizem interlocutores no partido. Mesmo antes da condenação do petista, alguns nomes importantes do partido já tinham sugerido que a sigla começasse a pensar em alternativas a Lula - foi o que disseram os gaúchos Tarso Genro e Olívio Dutra. A sugestão foi rejeitada pela maioria da direção partidária, apurou a BBC Brasil.
Até o momento, inclusive, o PT mantém a intenção de registrar a candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 15 de agosto, mesmo que as chances dele realmente concorrer às eleições sejam pequenas.