Um estudo liderado pela Universidade de Hong Kong, em parceria com o University College London, relaciona o uso prolongado de remédios inibidores da bomba de prótons (IBPs) – classe de medicamentos do Omeprazol, Lansoprazol, Pantoprazol, Rabeprazol, Esomeprazol e Dexlansoprazol – a um aumento no risco de desenvolver câncer no estômago.
A pesquisa foi publicada pela revista científica "Gut" nesta terça-feira (31), mas gerou uma série de dúvidas. Especialistas ouvidos pela reportagem explicam que, pela metodologia usada, não se trata de uma comprovação de que os IBPs causem câncer, mas os resultados podem servir de alerta para o uso crônico do remédio.
Veja quatro perguntas sobre os IBPs e o estudo divulgado:
Eles são usados para diminuir a quantidade de ácido produzido pelo estômago e para tratar gastrite, refluxo e úlceras.
Os cientistas analisaram 63.387 casos de pacientes de Hong Kong -- destes, 153 tiveram câncer de estômago (0,24%). O acompanhamento ocorreu entre os anos de 2003 e 2012. Outros estudos já haviam apontado uma correlação (leia abaixo) entre IBPs e câncer de estômago, mas nenhum havia excluído a influência da bactéria Helicobacter pylori, que também é uma das possíveis causas do câncer de estômago.
Neste estudo recente, os pesquisadores queriam eliminar a influência da bactéria nos resultados. Os autores citam que a erradicação da Helicobacter pylori mostrou uma redução no risco de câncer de estômago de até 47%, mas que uma boa parte dos indivíduos continuava a apresentar a doença.
Eles selecionaram apenas pacientes já tratados com o antibiótico claritromicina e que estavam sem a bactéria no aparelho digestivo. Junto com o antibiótico, eles já ingeriam os IBPs. Esse grupo foi comparado com pessoas que tomavam bloqueadores de histamina-2 (H2RA), que causa um efeito similar ao omeprazol.
De acordo com os resultados do estudo, as pessoas que continuaram com o uso a longo prazo do medicamentos IBPs (mais de um ano) pelo menos uma vez por semana apresentaram uma alta de 2,4 vezes no risco de ter câncer de estômago. Aqueles que consumiram diariamente os remédios apresentaram um aumento de 4,55 nas chances. Os usuários dos bloqueadores de histamina-2 (H2RA) não apresentaram aumento do risco para a doença.
"Há algumas evidências de uma eventual ligação dos remédios com o aumento da chance de desenvover câncer de estômago. Esse estudo não é uma comprovação. É um alerta aos pacientes que usam [esses medicamentos] cronicamente para fazer uma avaliação do custo-benefício e trocar por uma outra saída sem tantas chances de efeito colateral", explicou o oncologista René Claudio Gansl, do Hospital Israelita Albert Einstein.